COMO É PERVERSA A JUVENTUDE DO MEU CORAÇÃO!
Encontro nas paralelas com Belchior
Estando, ou não, mais angustiado, estive agora a pouco revivendo um dos maiores ícones de nossa MPB e considerado - pelo menos por este que escreve estas minguadas linhas - como o nosso Dylan, tamanha sinceridade e sincretismo em sua música. Poeta da paráfrase de meias e longas palavras, rebuscadas ou não. Adorando a Divina Comédia de Dante, Belchior estaria preparando uma tradução sua quando nos deixou órfãos.
Estando, ou não, mais angustiado, estive agora a pouco revivendo um dos maiores ícones de nossa MPB e considerado - pelo menos por este que escreve estas minguadas linhas - como o nosso Dylan, tamanha sinceridade e sincretismo em sua música. Poeta da paráfrase de meias e longas palavras, rebuscadas ou não. Adorando a Divina Comédia de Dante, Belchior estaria preparando uma tradução sua quando nos deixou órfãos.
Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, ou simplesmente: Belchior,
com o "o" fechado, como diria seus companheiros de campanha quando
saíram do Ceará para propagandear mais uma verdadeira musicalidade nordestina ao lado
de Ednardo, Amelinha e Fagner "o pessoal do Ceará", rótulo que não aceitava porque tinham outra proposta e faziam contraponto com outra vertente já enraizada que era o
pessoal da Bahia: A TROPICÁLIA. Belchior utilizou das letras do Gil
e Caetano para destilar a sua verve contra o que se apresentava - e ele
próprio considerava - como "atraso" naquele momento na cultura musical
existente.
Havia mais. Segundo ele, havia muito mais.
O Nordeste sempre foi
seu chão. Seu Monte Camburaí e seu Chuí. Extremos de uma alma de
extremos. Extremos de uma canção de extremos. Sempre a Palo
Seco e nunca a Palo Seco. Cheio de referências, Belchior se vale de uma
província na Argentina Palo Seco para expressar sua
preocupação política naquele momento em 73: "um tango argentino me vai bem
melhor que um blue" - cantar em inglês era moda por aqui; e no exato ano em que a ditadura se
iniciava no Chile: sei que assim falando pensas que este desespero é
moda em 73; e ainda assim revela um desejo: Eu quero
que este canto torto feito faca corte a carne de vocês.
"É preciso desafinar o coro dos contentes!" disse uma vez. Soa como revolucionário, trazer a luz à luz; Desfazer para fazer; desaprender para aprender. Sentir orgulho pelo pertencimento ao não-pertencer; ser o "não-ser". Tinha orgulho disso. Disparava contra tudo de modo elegante, impermeável, sutil e de uma sutileza monstruosa; e carinhosa, e turrona: dantesca. Não falseava palavras nem escolhia a personagem, uma vez cantou: "Veloso, o sol não é tão bonito pra quem vem do Norte e vai viver na rua!"; em fotografia 3x4 revela que o nordestino não tem vez, enquanto que o baiano quer sentir o vento com "nada no bolso ou nas mãos"; ele demonstra solidariedade na mesma canção: "eu sou como você que me ouve agora." Pertencimento. Companheirismo. Nada tão idealizado nem idílico. Apenas dizendo "Tamo junto!" e tendo certeza de que tem coisas novas pra dizer. De fato.
Quando Elis Regina gravou Como Nossos Pais e cantou pela primeira vez ao vivo, ele estava na plateia chorando. Quando Chico Anísio o homenageou no Senhor Brasil do Rolando Boldrin declamando Galos Noites e Quintais, lá estava ele na plateia também chorando. É um deslinde de sentimentos aguerridos na sequidão das terras rachadas pela estiagem no brejo da nordestinidade. Paralelas, obra perfeita e fantástica do cantautor, ganha robustez e angústia na voz de Vanusa, sinceridade em Erasmo Carlos e desmanche de sentimentos em Zélia Duncan com sua interpretação blues. E daí talvez advenha os extremos da juventude do coração.
Mucuripe o projetou assim como Fagner, parceiro da canção, para o Brasil. Elis Regina, Roberto Carlos e até Nelson Gonçalves gravaram a música. Segundo o próprio Fagner, Belchior foi seu parceiro mais importante, mesmo depois das rusgas que os separaram.
Cabe aqui outro excerto elementar: Cumpre saber que Belchior levava a palavra a sério, assim como a musicalidade e expressões linguísticas que por vezes trariam atrito com outros autores. Buscando legitimação ou litigância? Não sei. Só sei que nada é divino, nada é maravilhoso, nada é secreto, nada é misterioso; ainda que cantado por Gilberto Gil, porque ele era Apenas Um Rapaz Latino-americano sem dinheiro no banco e ainda era bem moço pra tanta tristeza.
Itamaracá 07 de dezembro 2018
Mucuripe o projetou assim como Fagner, parceiro da canção, para o Brasil. Elis Regina, Roberto Carlos e até Nelson Gonçalves gravaram a música. Segundo o próprio Fagner, Belchior foi seu parceiro mais importante, mesmo depois das rusgas que os separaram.
Cabe aqui outro excerto elementar: Cumpre saber que Belchior levava a palavra a sério, assim como a musicalidade e expressões linguísticas que por vezes trariam atrito com outros autores. Buscando legitimação ou litigância? Não sei. Só sei que nada é divino, nada é maravilhoso, nada é secreto, nada é misterioso; ainda que cantado por Gilberto Gil, porque ele era Apenas Um Rapaz Latino-americano sem dinheiro no banco e ainda era bem moço pra tanta tristeza.
Itamaracá 07 de dezembro 2018

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